O intérprete e o crítico: duas perspectivas

São duas as inspirações dessa postagem. A primeira é a afirmação de Habermas de que não é possível interpretar sem avaliar, nem avaliar sem interpretar, de modo que hermenêutica e crítica estariam, por assim dizer, irmanadas numa única e mesma tarefa. A segunda é minha recente experiência de leitura de intérpretes contemporâneos da ética de Kant, quando pude perceber que, ali onde os críticos veem equívocos e contradições, os intérpretes veem apenas motivos para atribuir diferentes sentidos às afirmações de Kant. Essa segunda experiência me trouxe a impressão de que, enquanto o crítico está, por assim dizer, à procura do erro, o intérprete está, por sua vez, previamente comprometido com a premissa de que não há erro algum no texto que investiga. Isso colocaria o crítico e o intérprete em lados opostos, não apenas respectivamente como acusador e defensor do texto, mas também respectivamente como aquele que avalia o texto e aquela cuja leitura é avaliada pelo texto.

Um exemplo: Kant afirma, na Fundamentação da Metafísica dos Costumes, que uma ação só tem valor moral se for praticada por dever. Dá, entre outros, o exemplo do filantropo que, tendo natural inclinação por ajudar os necessitados, o faz sem dificuldade e contrapõe esse caso com o do mesmo filantropo, caso se encontrasse na situação em que, amargurado pelos sofrimentos pessoais, tivesse perdido toda consideração pela sorte alheia, dizendo que, se, nessa última situação, ele ainda assim encontrasse forças para arrancar-se de sua indiferença e ajudar os necessitados, não mais, portanto, por inclinação, mas apenas por tratar-se de um dever, aí sim sua ação seria dotada de verdadeiro valor moral.

O crítico vê nessa passagem um motivo para rejeitar a abordagem de Kant. Kant parece estar dizendo que a ação de quem ajuda outra pessoa apenas por dever, sendo indiferente à sua sorte, tem valor moral, enquanto que a ação de quem ajuda outra pessoa por sentir-se compadecido de seu sofrimento e encontrar na ajuda ao outro motivo de verdadeira alegria não tem valor moral. Mas isso é exatamente o contrário do que nos indicam nossas intuições morais cotidianas. A ajuda indiferente é geralmente vista por nós como forçada, fingida, quase ofensiva, enquanto a ajuda compassiva é vista como sincera e denotadora de um caráter verdadeiramente virtuoso. O argumento de Kant parece sugerir que a ajuda do misantropo é moralmente superior à ajuda do filantropo, apenas porque esse último tem outros motivos para agir que não apenas o dever.

O intérprete não vê da mesma forma. Ele diz que seria irrazoável atribuir à Kant a ideia de que a ação moral só ocorre quando não se dá importância ao sofrimento alheio e não se encontra prazer em cumprir o dever. Sendo assim, essa interpretação do argumento de Kant - que é aquela com que fica e para a qual aponta veementemente o crítico - estaria de cara excluída. É preciso supor que não foi isso o que Kant quis dizer e encontrar o verdadeiro sentido de seu argumento, um que o torne razoável. O intérprete dirá, então, que Kant está contrastando o caso em que o filantropo ajudasse os necessitados apenas por compaixão e por prazer, sem, portanto, nenhum sentido de dever, com o caso em que o mesmo ajudasse os necessitados apenas por dever, sem nenhuma compaixão nem prazer em sua ação. Kant está dizendo que, comparando estes dois casos, apenas o último tem valor moral, enquanto o primeiro não tem. E o primeiro não tem porque não é movido por dever, e sim por inclinações, as quais apontam, naquele caso, para a ajuda ao outro, assim como as inclinações, por exemplo, do misantropo apontam para o distanciamento e a indiferença. Sem a consciência do dever, é apenas por acaso e feliz coincidência que as inclinações do filantropo apontam para a ação correta, e é esse acaso que a esvazia de valor moral. Mas Kant, completa o intérprete, não está comparando o caso do agente que ajuda o outro apenas por dever com o caso do agente que ajuda o outro por dever e por sincera compaixão. Se fossem esses os dois casos em tela, Kant teria provavelmente dito que, sendo ambos movidos pelo dever, as ações têm o mesmo valor moral e que a compaixão, se alguma diferença faz, é apenas denotadora de um melhor caráter e temperamento no filantropo que naquele que é indiferente.

Tomemos esse exemplo. O texto de Kant, ao enunciar o primeiro cenário do exemplo do filantropo, diz que ele age por compaixão e por prazer na ajuda ao outro. O texto não diz "apenas por compaixão e por prazer, mas sem consciência do dever". Como o texto não diz, é o leitor que deve chegar à conclusão. Teria Kant dito que não tem qualquer valor moral (1) a ação que não seja movida por dever ou (2) a ação que seja movida por qualquer inclinação estranha ao dever, mesmo que o dever também esteja presente? Como vimos, o intérprete opta pela primeira interpretação, enquanto o crítico opta pela segunda. A primeira é capaz de tornar a afirmação de Kant mais razoável e conforme nossas intuições morais cotidianas, enquanto a segunda a denuncia como peça de rigorismo extremo e de racionalismo irracional. O crítico acredita que, se encontra uma afirmação no texto que o mostra como irracional, o problema é do texto. O intérprete acredita que, se isso ocorre, o problema não é do texto, mas da leitura do texto, que precisa, então, ser revista. O crítico parte do suposto de que sua leitura do texto está certa e de que é o texto que pode estar certo ou errado. O intérprete parte do suposto de que o texto está certo e de que é a sua leitura do texto que pode estar certa ou errada. O crítico trata o texto como um aluno que está sendo avaliado num teste de razoabilidade. O intérprete o trata como um mestre com que deve aprender, afastando, para isso, as leituras irrazoáveis. O crítico se coloca na posição de quem sabe e avalia. O intérprete, na posição de quem aprende e se auto-avalia.

Disso concluo que Habermas tem, sim, razão em dizer que não é possível interpretar sem avaliar nem avaliar sem interpretar, mas a interpretação do crítico e do intérprete e a avaliação do crítico e do intérprete não são as mesmas. A interpretação do crítico é de que o texto diz tal coisa e sua avaliação é de que, se diz tal coisa, então é irrazoável. A interpretação do intérprete é de que o texto não diz tal coisa, porque, se o dissesse, seria, então, irrazoável, coisa que ele não pode ser. Essa minha experiência com os intérpretes de Kant me deixou, assim, com a impressão de que, pelo menos nessa controvérsia entre Habermas e Gadamer, este último talvez tenha razão.

Comentários

Débora Aymoré disse…
Olá, André, tudo bem? Achei o tema de sua postagem interessante e queria fazer uma colocação. Não conheço nem as ideias de Habermas, nem as de Gadamer, mas me parece que a questão de ser crítico ou intérprete não tem tanto a ver com a atitude saber-avaliar e não saber-autoavaliar e sim com o que se espera de um modo geral da leitura daquele texto. Digamos, se parto do pressuposto de que o texto faz sentido independentemente de o autor ter conseguido expressar todas as suas ideias com perfeição, seria ao mesmo tempo um crítico, pois teria que encontrar as falhas na expressão da linguagem do autor, mas seria também um intérprete, pois procuraria "adicinar" aqueles elementos que a obra parece não ter tornado explícita o suficiente para que a ideia do autor estivesse expressa de modo completo. Sendo assim, estaria agindo não como quem conhece o texto ou como quem não conhece, e sim como uma pessoa que quer encontrar o sentido do texto, partindo do pressuposto de sua completudo. Bem, se puder comentar algo a esse respeito eu agradeço antecipadamente. Abraço.
Adrian Silva disse…
Caro Professor, há muito já venho lendo seus posts por sempre ver neles conteúdos bastante interessantes. Sou aluno do Cesupa, porém, e infelizmente, não tive a oportunidade de ser seu aluno, fui aluno do Sandro (em HDPJ) e Dennis (em IED I e II), mas conheço seu trabalho, quiça um pouco. E por esse motivo, me torno mais um de seus seguidores aqui neste plano. Também tenho um blog e também gosto de escrever sobre filosofia do direito, moral e contemporânea, ainda que de uma forma humilde. Meu blog tem apenas alguns dias, e portanto faz pouco tempo que me inclui à estes meios aos quais pretendo me acostumar. Grande abraço!
Luciano disse…
Hallo Lehrer Andre.

quando li o exemplo q vc usou nesse texto sobre a diferença entre critico e interprete, eu entendi o q os interpretes falam q Kant contrapõe 2 fatos:

1 - O filantropo ajuda os necessitados apenas por compaixão e por prazer;

2 - O filantropo ajuda os necessitados apenas por dever, sem nenhuma compaixão nem prazer em sua ação.

Eu só não entendi pq o interprete diz que é irrazoavel atribuir à Kant a ideia de que a ação moral só ocorre quando não se dá importância ao sofrimento alheio e não se encontra prazer em cumprir o dever.

Pq me parece q o próprio interprete diz q o filantropo inclinado a ajudar por paixão não tem valor moral porque não é movido por dever, e sim por inclinações, as quais apontam para a ajuda ao outro. É como se o interprete dissesse que o centro, ou a máxima, do filantropo é: "Ajudar para se sentir feliz, para se auto agradar". Logo, se um dia o filantropo não se sentir mais feliz em ajudar, e ficar amargurado e indiferente pela sorte alheia (assim como o misantropo), então, ele nao ajudará mais, pois o centro da máxima dele não é ajudar os q precisam pq precisam, mas ajudar para se sentir bem em ajudar. Não é ajudar por dever, nem por sacrificio, mas por hedonismo. Mas está valendo também ajudar por sacrifício, se houver prazer em se sacrificar em ajudar, já q o filantropo, neste caso, possui a inclinação para se sentir bem em ajudar, apesar de tudo.
Luciano disse…
Desta forma, o próprio interprete aceita que há valor moral no misantropo, pois a ação dele não é movida por dever (interpretação '1' no seu texto). Logo, se ele ajudar mesmo sentindo aversão ao outro, e consequentemente, preferindo internamente não ajudar as pessoas, então, e também, é claro, a máxima dele for: ajudar os que precisam pq precisam. Então, com esta máxima, a ação dele nao estará em contradição com o exame de universalidade, já q ele ajuda pq o centro para ele é ajudar pq alguém precisa, e não para se sentir bem com isso. O centro para ele é ajudar quando uma situação exigir, ou seja, quando houver o requisito necessidade, e não por uma inclinação inata com motivos hedonistas.

Então, o próprio interprete diz que é razoável atribuir à Kant a ideia de que a ação moral só ocorre quando não se dá importância ao sofrimento alheio e não se encontra prazer em cumprir o dever, desde que a máxima do agente seja aprovada no teste de universalidade. Ou seja: se o misantropo não dá importância para o sofrimento alheio, mas considera que este ato não deveria ser feito por todos (não deveria ser uma lei universal), então ele ajuda assim mesmo, simplesmente pq acha certo ajudar, de forma interna, sem precisar agradar olhares sociais, e nem se auto agradar. Daí, ao mesmo tempo q ele diz q é razoável, ele tb diz que não é, pq ele diz q Kant diz que tem valor moral a ação q não é movida por qualquer inclinação estranha ao dever, mesmo que o dever também esteja presente (contrario da interpretação '2' do seu texto, já que a interpretação 2 pertence aos críticos, então, o contrario dela tecido aqui, neste caso especifico, fica compatível para os interpretes). Então, a ação do misantropo, não possui ação estranha ao dever, desde q a máxima dele seja: ajudar os precisam, pq é certo ou pq eles precisa (não precisa ser motivacionalmente eficaz), e a ação do misantropo já possui um motivo estranho ao dever: apenas ajudar enquanto aquilo agradar a si mesmo. Logo, a ajuda precisa não pode ser apenas razoavelmente eficaz, mas precisa de uma motivação, q é se sentir satisfeito com aquilo, q é o motivo estranho ao dever.
Luciano disse…
continuaçao III:


Então, é como se, assim que o filantropo, que tanto defende a ajudar ao próximo, virar um misantropo, por alguma infelicidade da vida, ele parará de ajudar, pois ele só ajuda enquanto houver o motivo estranho ao dever (satisfação pela inclinação em ajudar), então, basta este motivo acabar, para q a ajuda acabe. Com isso, não vejo problema em dizer que Kant disse q a ação moral só ocorre quando não se dá importância ao sofrimento alheio e não se encontra prazer em cumprir o dever. Desde, como já dito, a máxima, a forma q a pessoa usa para ajudar, seja aprovada pelo exame de universalidade.


PS: Sobre o ponto sobre filantropo e misantropo, kem passa no teste de universalidade, e o seu post mais recente sobre a critica de Hegel à Kant (q tb é bastante interessante), acho seria ótimo vc escrever sobre outra critica de Hegel sobre Kant: Sobre a lógica kantiana de q todos já nascem sabendo o q é certo e errado, pois ao buscar a validade universal para as máximas das ações, então é como se já tivéssemos bom senso do berço para fazer estes exames de universalidade, como se o bom sujeito fosse assim por uma inscrição inata genética (apesar de poder ter influencia do meio etc). Já Hegel critica isso, defendendo q seria a vivencia q criaria o bom sujeito apto para ter ações corretas a serem universais. Se bem q no seu post mais recente, vc já destrói a critica de Hegel, quando mostra que Kant não fala em ações, mas em máximas para elas, não pedia para kestionarmos sobre a validade dela, se achamos elas certas ou erradas etc, mas se essas máximas podem se tornar universais e praticadas por todos, sem haver contradição nisso. Tornado essa critica sobre se a boa pessoa vem do berço (Kant) ou seria a vivencia q criaria a boa pessoa (Hegel), com bases equivocadas contra o Kant.. Mas ainda assim, seria uma boa ideia de post para seu blog^^
Luciano disse…
Correçoes usando '*': juro revisar o texto na proxima ;)

a ação do misantropo, não possui ação estranha ao dever, desde q a máxima dele seja: ajudar os q* precisam, pq é certo ou pq eles precisam* (não precisa ser motivacionalmente eficaz); e a ação do filantropo* possui um motivo estranho ao dever: apenas ajudar enquanto aquilo agradar a si mesmo. Logo, a ajuda não pode ser apenas razoavelmente eficaz, mas precisa de uma motivação, q é se sentir satisfeito com aquilo, q é o motivo estranho ao dever.

Desta forma*, é como se, assim que o filantropo, que tanto defende a ajuda* ao próximo, virar um misantropo, por alguma infelicidade da vida, ele parará de ajudar, pois ele só ajuda enquanto houver o motivo estranho ao dever (satisfação pela inclinação em ajudar), bastando* este motivo acabar, para q a ajuda acabe. Com isso, não vejo problema em dizer que Kant disse q a ação moral só ocorre quando não se dá importância ao sofrimento alheio e não se encontra prazer em cumprir o dever. Desde, como já dito, a máxima, a forma q a pessoa usa para ajudar, seja aprovada pelo exame de universalidade.
Luciano disse…
Sobre contradições q eu percebi:


No meu texto nao expliquei direito sobre a preferência interna, e a aceitação interna.

Falei q o misantropo pode ter as ações válidas pelo teste de universalidade, mas vi contradição quanto à aversão interna deste, então aqui está uma explicação melhor:

Apesar de haver aversão em ajudar, a ação dele só pode ser aprovada no exame kantiano se:

1 - ele preferir, internamente, não ajudar as pessoas (característica q o torna misantropo)

2 - ele aceita, internamente, que deve ajudar, mesmo sem motivação para isso, caso ele assuma que a ação dele não deva ser universal. Ele prefere não ajudar, mas pode querer que a ação dele não se torne lei universal.

Considerando que as máximas de Kant precisam apenas da eficácia racional (sem uma eficácia motivacional), será que não haveria contradição na ação do misantropo, se presentes os atributos 1 e 2?
Anônimo disse…
Luciano, algo que talvez eu devesse ter deixado mais claro na minha exposição da opinião dos intépretes de Kant: eles supõem que, naquela passagem, Kant está contrastando dois exemplos extremos (os quais, portanto, não cobrem todas as possibilidades), a saber, o da ajuda aos necessitados apenas por inclinação filantrópica e o da ajuda aos necessitados apenas por dever, mesmo sem aquela inclinação. Quanto a esses dois casos extremos, Kant diz que o último tem valor moral, enquanto o primeiro não tem. Contudo, como esses dois casos são extremos e não cobrem todos os casos possíveis, haveria muitos casos em que a representação do dever e a inclinação filantrópica poderiam estar juntos como elementos de motivação do sujeito. Nesses casos, como saber se a ação tem ou não tem valor moral? A tese dos intérpretes é de que a ação tem valor moral se a representação do dever for um motivo sobredeterminante, quer dizer, um motivo que seria capaz de, sozinho, determinar a ação, mesmo que na ausência de outros estímulos. Se for este o caso, então o concurso de inclinações filantrópicas não tiraria nada do valor moral da ação. Elas atuariam, por assim dizer, como motivos secundários ou auxiliares, mas não determinantes, da ação.
Anônimo disse…
Para completar, é importante destacar que, no texto da Fundamentação, Kant descreve a situação em que o ex-filantropo perdeu interesse pela sorte alheia (isso é a "fria indiferença"), mas supõe que, se, mesmo assim, ele fosse capaz de "arrancar-se daquela fria indiferença", ou seja, ele fosse capaz de importar-se com o outro, mesmo não tendo mais estímulos espontâneos nesse sentido. Assim, o ex-filantropo, que não se tornou um misantropo (ele não deseja o mal aos outros), mas apenas indiferente à sua sorte, teria que, para executar uma ação de ajuda dotada de valor moral, arrancar-se de sua fria indiferença, porque, se realizasse a ação com indiferença pela sorte alheia, incorreria em dois problemas: i) seria menos sensível às necessidades dos demais e diminuiria sua possibilidade de prestar ajuda a eles; ii) cumpriria o dever com certo desconforto, desprazer e hostilidade, o que é o inverso da autonomia, que significa cumprir o dever por liberdade. Assim, ao contrário do que os críticos apontaram ao longo do tempo, seria falso dizer tanto que, para a ajuda ter valor, é preciso que o agente seja indiferente à sorte daqueles que ele ajuda, quanto que a ação de ajuda de uma misantropo teria valor moral. Pelo contrário, o que se precisa nesse caso é cumprir um dever de amor (de que Kant fala noutra obra, a Metafísica dos Costumes): não o amor sentimento, que não pode ser dever, porque está além de nossas forças controlar; mas um amor prático, que se revela como simpatia e beneficiência por todos os seres humanos apenas por se tratar de seres humanos. Kant diz nessa obra que a presença desse amor pela humanidade é condição necessário do valor moral de nossa ajuda aos outros.
Luciano disse…
Acho q entendi^^

1 - Na situação extrema da pessoa ajudar exclusivamente por inclinação, ou exclusivamente por dever, apenas a segunda situação tem valor moral.

Isso ocorre pois deve-se perceber que:

Há uma incoerencia no caso do indivíduo indiferente q nao se torna misantropo (nao deseja o mal aos outros) e consegue se desprender desta fria indiferença e, consequentemente, se importa com o outro, mesmo nao tendo estímulos voluntários neste rumo.

Há incoerência neste caso, pois nao teria como ele continuar sendo indiferente, já q ele deve se desprender desta indiferença e ajudar o outro, para q a ação tenha valor moral.

Ele deve deixar de ser indiferente pela sorte alheia, pois vc mostrou que existiriam 2 problemas se o indivíduo realizasse a ação com esta indiferença:

I) Reduziria a condição q torna a ação com valor moral possível de acontecer, pois o agente daria pouca importância para a penúria dos demais.

II) O agente realizaria a ação sem ânimo, descontente, e com manifesta má vontade e humor. Retirando a autonomia do agente. Autonomia esta, q é propria do cumprimento do dever por liberdade.


2 - Esta passagem sobre os dois casos extremos, de ajudar apenas por inclinação e apenas por dever, nao abrangem casos em q ajudar por ambos motivos existem simultaneamente ^^

3 - Nos casos em q ambos motivos existem ao mesmo tempo, é exigido q o dever determine a ação, ainda q na falta de outras animações (que exerceriam uma função complementar).
Luciano disse…
Não tinha me tocado para a incoerência da passagem dos casos extremos ^^

Então, entre um individuo com inclinação para ajudar, e outro indiferente,

é plausível q a ação do segundo tenha valor moral, pois ele tem q deixar de ser indiferente para atuar com valor moral, já q se ele nao deixar, incorreria entao nos 2 problemas mencionados ^^

Logo, nao há como ele atuar com indiferença e, ao mesmo tempo, ter valor moral, pois o valor moral exigiria o afastamento da indiferença.

Enquanto q o individuo q ajuda exclusivamente por inclinaçao, por ser um exemplo extremo, o dever acaba q não fazendo parte dos motivos q leva à ação moral.

E para q haja ação moral, o dever deve ser um motivo, q por sí só, determina a ação moral, ainda q haja outros motivos cooperando. Mas neste exemplo, nao há estes outros motivos, pois, é claro, se trata de um exemplo extremo, proposto por Kant ^^
Anônimo disse…
bom comeco

Postagens mais visitadas deste blog

A distinção entre ser e dever-ser em Hans Kelsen

Premissas e Conclusões

Crítica da Razão Pura: Breve Resumo