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Mostrando postagens de outubro, 2010

Introdução à Ética do Discurso de Habermas

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Na teoria de Habermas, chama-se "ética do discurso" a duas coisas diferentes: à teoria sobre quais são as exigências que devem ser preenchidas para que um discurso seja válido; e à teoria sobre o sentido discursivo de enunciados morais. É tecnicamente mais preciso reservar o nome "ética do discurso" para esta segunda coisa, chamando a primeira de "pragmática transcendental" ou "pragmática universal". Portanto, essa postagem se dedicará apenas à teoria habermasiana do discurso moral, entendendo esta teoria como a "ética do discurso". Vou listar em itens aquilo que penso que alguém que esteja se aproximando da ética habermasiana não pode deixar de saber para entendê-la adequadamente. Eis os itens: 1. Guinada Linguística: Assim como muitos outros filósofos atuais, Habermas considera que a filosofia contemporânea gira em torno de questões de linguagem, no sentido de que os filósofos hoje em dia não falam diretamente sobre as coisas, mas

Votar no candidato, no programa, no partido ou nas vantagens?

Supondo que você não vai (1) simplesmente vender o seu voto para quem lhe der mais dinheiro ou lhe fizer mais favores, (2) simplesmente votar em quem os seus pais, seu cônjuge, seus amigos, seus colegas de trabalho, sua timeline do Twitter, seus contatos do Orkut e do Facebook etc. disserem que vão votar, (3) simplesmente votar em quem você sempre vota porque você pertence a um partido ou é ligado a um candidato ou (4) simplesmente anular o seu voto ou votar em branco - seja porque seu tempo é precioso demais para perder com política, seja porque seu apoio é nobre demais para ser dado a algum candidato que não seja isento de falhas, erros e suspeitas -, você terá que pensar bem e decidir, a partir das opções disponíveis, em quem vai votar. E, nessa hora, surgirá a questão: Com que critério escolher? Gostaria de fazer uma apreciação crítica de quatro possíveis critérios de escolha: a) a pessoa do candidato; b) o programa do candidato; c) o partido do candidato; e d) as vantagens que voc

No Dia do Professor

Tenho muita sorte de fazer o que mais gosto. Sinto muito desejo e prazer em ensinar, os alunos e as alunas inteligentes que tenho aprendem devido ao próprio esforço e por alguma razão acham que aprendem por minha causa e algumas instituições também acreditam nisso e me pagam para que eu ensine. Nem relatórios, nem provas, nem reclamações de alunos anulam (embora às vezes mitiguem) o enorme prazer que é ensinar. Obrigado nesse dia às três instituições que me proporcionaram esse prazer: ao CESUPA, à UNAMA e à FCAT. Nas três tive turmas maravilhosas, que me presentearam com alunos que se tornaram meus amigos, e alguns dos quais um dia serão meus colegas de profissão. Parabéns antecipado para esses também nesse dia!

Habermas: Um Instinto Vanguardista por Relevâncias: Os Intelectuais e seu Público

Procurando por textos de Habermas, deparei-me com esse , bastante recente, integrante da coletânea "Europe: the Faltering Project", de 2009.O texto aborda a questão do declínio da relevância concedida aos intelectuais em tempos de mídia de massa e internet e do papel que os verdadeiros intelectuais ainda podem e devem procurar ter no contexto atual. O texto original está em inglês no link indicado na primeira linha da postagem e segue abaixo uma tradução em português que fiz para os leitores do Blog. As raízes da autocompreensão igualitária dos intelectuais na Alemanha remontam à primeira geração depois de Goethe e Hegel. Os literatos inquietos e livres docentes do círculo da Jovem Alemanha ou da esquerda hegeliana nutriram tanto a imagem de intelectuais errantes, espontâneos, intensamente polêmicos, muitas vezes ebriamente sentimentais e imprevisíveis, quanto os preconceitos contra eles que persistem até os dias de hoje. Não é por acaso que a geração de Feuerbach, Heine e

Presunção de Inocência, Duplo Grau de Jurisdição e Coisa Julgada

Há algum problema moral em autorizar a aplicação de uma pena ao réu depois que sua condenação já foi decretada ou ratificada por um órgão colegiado, mas antes que os recursos ulteriores tenham sido esgotados? Nessa postagem defenderei que sim, há um problema. Para isso, falarei primeiro de sob quais condições pode ser considerada legítima a aplicação de pena a um réu. Depois, mostrarei como a questão recursal interage com essas condições, criando novas condições. Por fim, levarei em conta dois tipos de objeções contra a minha tese, tentando dar-lhe respostas adequadas. Como vocês verão, adotarei para isso uma abordagem kantiana. Isso pode ter o efeito negativo de que digam que, se eu fui bem sucedido em alguma coisa, foi apenas em ter provado que, de um ponto de vista kantiano, as coisas são assim, sem ter provado, contudo, que o ponto de vista kantiano é, de fato, apesar de todas as críticas que recebeu e que ainda recebe, melhor que os outros. Se me concederem isso, eu de minha pa

Uso de Argumentos Religiosos em Discursos Jurídicos de Aplicação à luz da Obra Recente de Jürgen Habermas

            O texto abaixo é a versão escrita da comunicação que apresentei na última quinta-feira, dia 7 de outubro de 2010, na Sessão Habermas do XIV Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof). É possível que eu venha a publicar uma versão estendida desse texto num volume da Revista Ethic@ especialmente dedicado à publicação de textos comunicados durante esta Anpof. Talvez seja interessante fazer aqui algumas ressalvas que fiz também na minha apresentação na Anpof: Sou ateu, não tenho nenhum interesse particular na aceitação de argumentos religiosos, não partilho do mesmo otimismo de Habermas quanto ao estoque de intuições morais das religiões e, nos dois casos concretos que cito abaixo, teria decidido em contrário aos argumentos religiosos que foram usados pelas partes. Digo isso para que não se pense que estou aqui fazendo algum malabarismo teórico ou hermenêutico para dar entrada no espaço público judicial para minhas crenças pessoais; muito pelo contrár