Sobre a Ética a Nicômaco 1094a 1-2

"Toda arte e toda investigação, bem como toda ação e toda deliberação, parece visar a algum bem: por isso se disse com razão que o bem é aquilo a que todas as coisas visam". Assim começa a Ética a Nicômaco, o principal dos escritos que Aristóteles dedicou ao tema da ética. Com essa frase, Aristóteles anuncia um programa de pesquisa. Ele investigará as atividades humanas como buscas de fins, considerados como bens. Ele está dizendo que a estrutura da ação humana racional é teleológica: Fazemos certas coisas para alcançarmos certos fins. E está dizendo que o motivo pelo qual buscamos tais fins é que eles nos parecem ser bens. "Fim" e "bem", assim, seriam categorias centrais para a explicação da ação humana. Mas será que Aristóteles está certo? Sempre que fazemos algo é para alcançar um fim com isso? Essa abordagem daria conta, por exemplo, do cumprimento de regras, das demonstrações de afeto, da apreciação da arte, do ritual religioso, da ação puramente habitual, da comunicação entre amigos, do passeio, da brincadeira, do cantarolar no chuveiro, do dançar em frente ao espelho etc.? Gostaria de ler as opiniões de vocês nos comentários, antes de pronunciar-me a respeito. Não tentem adivinhar a minha posição, apenas pensem, formem e expressem a de vocês.

Comentários

Adrian Silva disse…
Olá, professor André Coelho, tudo bem?

Sou um visitante bem amistoso de seu blog, apesar de quase nunca tecer comentários, mas a verdade é que tenho uma paixão por filosofia, e Aristóteles sem dúvida alguma (é claro que ao lado de Kant) é um dos pensadores que mais admiro, e que mais me ensinou também, sobretudo na seara da moral.

Correndo o risco de incorrer em alguma erro ou mesmo digressão (quanto a isso, até costumo escrever algumas idéias deste filósofo em meu blog), vim me arriscar a participar desse debate afim de aprender mais ainda sobre a Ética a Nicômaco (já estou sendo teleológico!).

Bem, Aristóteles é bastante categórico, nesta mesma obra, ao dizer que o maior de todos os bens, para o qual as ações humanas se destinam, é a Felicidade, já que a mesma possui um fim em si mesma.
Me parece que nem sempre nossas ações se destinam a esse bem maior, outrossim, parece ter sentido a idéia de que toda ação tem um fim, ainda que seja a própria ação, p. ex., se o indivíduo A escreve uma carta à lápis a seu amigo B com o intuito de que este último efetue determinado pagamento, o primeiro tem uma finalidade com a sua conduta, fazer com que B pague a dívida, mas antes disso, outra finalidade que não é o fim principal, mas o necessário, qual seja, a comunicação entre as partes, para que depois, B possa, de fato, realizar o objetivo de A.

Neste exemplo, é fácil perceber o teleologismo. Agora quanto às situações citadas na postagem "cumprimento de regras, das demonstrações de afeto, da apreciação da arte, do ritual religioso, da ação puramente habitual, da comunicação entre amigos, do passeio, da brincadeira, do cantarolar no chuveiro, do dançar em frente ao espelho etc", posso até estar falando besteira, mas ainda assim, consigo observar as mesmas como meios para realização de determinados fins, no sentido de que se há o cumprimento de regras é para que haja harmonia e nenhuma espécie de desavença no ambiente em que as mesmas foram impostas e mesmo porque se regras são criadas é porque algo deve permanecer, ser evitado ou ser feito (e isso é fim).

Quanto às demonstrações de afeto, as pessoas realizam-nas a fim de que o sujeito alvo das mesmas possa realmente denotar a sua importância frente àquela pessoa (não me parece lógico que alguém demonstre afeto sem nenhuma finalidade, mesmo que não seja objetivando interesses).

No caso da apreciação da arte, o fim pode ser descobrir traços novos, conhecer, admirar/apreciar, formar idéias, etc.

E por aí em diante...
Pelo menos no momento da construção deste comentário, não me pareceu que qualquer conduta humana não seja destinada a um fim, apesar crer que possa haver uma relativização das coisas, e no caso, haver alguma ação sem fim.

Minha finalidade é mesmo ver seu posicionamento, caro professor.

Já que não costumo comentar com habitualidade neste espaço (até porque muitos dos debates se encontram em alto nível de conhecimento), gostaria de lhe parabenizar pro movimentar este espaço, que tal como o tema em debate, nos propiciar à famosa arte de pensar.

Abraços,
Adrian Barbosa - Estudante de Direito do Cesupa.
Anônimo disse…
Adrian, obrigado pela visita e pela resposta à minha questão. Quero esperar ainda um pouco antes de dar minha opinião e por isso vou deixar para esse momento o comentário acerca da sua resposta. Espero que sua contribuição estimule outros a também responderem, pois realmente gostaria que esse espaço se tornasse mais de participação e diálogo e menos de apenas expressões unilaterais de meus pensamentos. Se essa iniciativa der certo, pretendo propor outros vários debates para trocarmos ideias e aprofundarmos nossa reflexão. Um abraço!
Anônimo disse…
Atualizei a postagem, colocando a minha posição a respeito da questão que levantei antes.

Postagens mais visitadas deste blog

A distinção entre ser e dever-ser em Hans Kelsen

Premissas e Conclusões

Crítica da Razão Pura: Breve Resumo