Vocabulário Filosófico Básico: Virtude

Duas observações preliminares: (1) Esta não é uma postagem sobre as éticas da virtude em geral nem sobre uma delas em especial, e sim sobre o termo virtude e seus sentidos possíveis em ética; (2) Tentarei dar esta explicação sem me referir nem à história da ética nem a autores e teorias específicas, portanto, concentrando-me nos sentidos do termo nas abordagens que fazem uso dele. Agora sim, vamos ao assunto.

Virtude é um termo usado em algumas abordagens da ética e que pode ser explicado a partir de dois pontos de partida:

(a) A partir de seu conteúdo: Uma virtude consiste num traço de caráter eticamente valorado como positivo. Em éticas que privilegiam certa forma de vida como eticamente superior a todas as demais para o ser humano, o tipo de indivíduo que corporifica esta forma  de vida pode ser descrito em termos de um quadro de características definidoras, as quais são, então, no interior desta abordagem, valoradas como virtudes. Já em éticas que trabalham com uma pluralidade de formas de vida possíveis, as virtudes (como tenacidade, esforço, flexibilidade) são traços de caráter considerados necessários ou úteis para o êxito de todas elas ou (como respeito, razoabilidade e tolerância) para a convivência entre indivíduos com distintas formas de vida.

(b) A partir de seu desenvolvimento: Uma virtude consiste numa faculdade ou capacidade humana desenvolvida na forma e direção considerada adequada e até aquele ponto considerado eticamente desejável ou necessário. Normalmente, em éticas que privilegiam uma só forma de vida superior, este ponto é aquele em que ela passa a contribuir para uma finalidade ou função ética mais ampla que se atribui ao ser humano enquanto tal; já em éticas que trabalham com uma pluralidade de formas de vida possíveis, este ponto é aquele em que ela passa a ser útil para qualquer que seja a forma de vida que cada um busque. Em todo caso, éticas que enfatizam virtudes tendem a falar delas como existentes em potência em todo indivíduo humano normal e saudável e passíveis de serem desenvolvidas em ato mediante exercício constante e disciplinação dos aspectos humanos que desviam ou dificultam seu reto crescimento. Esta era, pelo menos, a ênfase clássica. Em algumas abordagens contemporâneas (teorias mais recentes ou leituras mais recentes de teorias antigas), a ênfase tem sido deslocada do desenvolvimento de virtudes apenas por exercício voluntário de cada um para um desenvolvimento que também requer interação com outros, aprendizado por tentativa e erro, lutas e frustrações ao longo do tempo, diálogo e convivência com a diferença etc.

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