Série: Argumentos Ridículos que Você Deve Evitar e Combater (1)
"Por que não acreditar em Deus (na alma, no amor, na lei moral etc.)? Apenas porque ninguém nunca viu? Mas o ar (a gravidade, a eletricidade, o átomo) também ninguém nunca viu, e nem por isso dizemos que não existe."
Esse argumento é ridículo pelos seguintes motivos:
1) Compara a existência de seres não físicos com a existência de fenômenos físicos. O fato de não se poder ver Deus, a alma, o amor, a lei moral deriva da própria natureza desses seres, enquanto o fato de não se poder ver o ar, a gravidade, a eletricidade, o átomo deriva das limitações da visão humana. Se a acuidade do olho humano fosse maior ou a interação entre a luz e a visão fossem diferentes, seria possível ver todos os fenômenos físicos do segundo grupo, enquanto os seres não físicos do primeiro grupo não poderiam ser vistos sob hipótese alguma.
2) Abriga o seguinte raciocínio tosco: Se há fenômenos que não podemos ver, mas em cuja existência acreditamos, isso é um bom motivo para dar crédito a hipóteses sobre outros seres que também não podemos ver. Esse argumento é totalmente falacioso. Converte o fato de não podermos ver certos seres em motivo para acreditarmos que eles existem, o que é simplesmente absurdo. Se for entendido em sentido mais fraco, como dizendo apenas que não os vermos não é motivo suficiente para descartarmos sua existência, então está dizendo o óbvio, dada a natureza desses seres, ao que já nos referimos no item anterior.
3) Acaba contribuindo para o contrário do que você quer provar. Se, para provar que existem seres que não vemos, você precisa recorrer a fenômenos físicos invisíveis, você está com isso reforçando a ideia de que os únicos seres de cuja existência podemos ter certeza são os físicos. Ou seja, para argumentar, você está recorrendo ao preconceito fisicalista que o seu argumento quer em tese refutar. É como querer argumentar pela igualdade entre homens e mulheres e dizer "Não se deve deixar de contratar mulheres, pois elas são tão produtivas quanto os homens", o que, embora sendo verdade, é irrelevante a partir do momento em que você tenha assumido que é justo dar iguais oportunidades a ambos os sexos, conclusão que deveria ser independente de qualquer mensuração de produtividade.
4) Ignora que a existência de fenômenos físicos invisíveis se baseia na constatação de fenômenos visíveis que não seriam explicáveis sem a suposição de fenômenos invisíveis que os causam. Assim, por exemplo, a queda dos corpos, a atração de partículas, as órbitas dos planetas etc. são todos fenômenos visíveis que só podem ter uma explicação coerente e unitária por meio da suposição de uma lei de gravidade. Mas o mesmo não acontece com seres invisíveis como Deus, a alma, o amor, a lei moral etc., que não são indispensáveis para a explicação de nenhum fenômeno físico visível, exatamente porque, não sendo seres físicos, não são capazes de causalidade física. No espírito do item anterior, você estará na verdade argumentando contra a sua causa, pois comparará os seres invisíveis cuja existência você defende com fenômenos físicos invisíveis cuja existência pode ser indiretamente testada e comprovada, criando para você mesmo um ônus de prova a mais e dando um belo contra-argumento ao adversário.
5) Há um argumento muito mais eficaz, que é dizer o seguinte: "Quando falamos de 'existência', geralmente nos referimos à 'existência' de objetos físicos e visíveis, como uma mesa, uma casa ou um cachorro; para essas coisas, 'existir' é ocuparem um lugar no mundo, serem captáveis pelos sentidos etc.; mas restringir a isso o sentido de 'existência' é um preconceito fisicalista, porque na verdade há várias outras coisas que 'existem' de outras maneiras: relações 'existem' na percepção (maior, menor), na apreciação (mais belo, mais feio) ou no raciocínio (mais coerente, menos coerente); números e figuras geométricas 'existem' apenas como ideias matemáticas; nosso passado 'existe' como lembrança, nosso futuro, como imaginação; assim, para cada tipo de coisa que estivermos considerando, devemos julgá-lo segundo o tipo de 'existência' que lhe é apropriado, em vez de impor a todos o tipo de existência próprio apenas de um domínio particular de objetos". Esse argumento (que não prova que Deus, a alma, o amor, a lei moral etc. existem, mas apenas que serem ou não visíveis não é o critério apropriado para julgar de sua existência) atinge o mesmo propósito, sendo, contudo, irretocável e extremamente difícil de ser refutado.
Esse argumento é ridículo pelos seguintes motivos:
1) Compara a existência de seres não físicos com a existência de fenômenos físicos. O fato de não se poder ver Deus, a alma, o amor, a lei moral deriva da própria natureza desses seres, enquanto o fato de não se poder ver o ar, a gravidade, a eletricidade, o átomo deriva das limitações da visão humana. Se a acuidade do olho humano fosse maior ou a interação entre a luz e a visão fossem diferentes, seria possível ver todos os fenômenos físicos do segundo grupo, enquanto os seres não físicos do primeiro grupo não poderiam ser vistos sob hipótese alguma.
2) Abriga o seguinte raciocínio tosco: Se há fenômenos que não podemos ver, mas em cuja existência acreditamos, isso é um bom motivo para dar crédito a hipóteses sobre outros seres que também não podemos ver. Esse argumento é totalmente falacioso. Converte o fato de não podermos ver certos seres em motivo para acreditarmos que eles existem, o que é simplesmente absurdo. Se for entendido em sentido mais fraco, como dizendo apenas que não os vermos não é motivo suficiente para descartarmos sua existência, então está dizendo o óbvio, dada a natureza desses seres, ao que já nos referimos no item anterior.
3) Acaba contribuindo para o contrário do que você quer provar. Se, para provar que existem seres que não vemos, você precisa recorrer a fenômenos físicos invisíveis, você está com isso reforçando a ideia de que os únicos seres de cuja existência podemos ter certeza são os físicos. Ou seja, para argumentar, você está recorrendo ao preconceito fisicalista que o seu argumento quer em tese refutar. É como querer argumentar pela igualdade entre homens e mulheres e dizer "Não se deve deixar de contratar mulheres, pois elas são tão produtivas quanto os homens", o que, embora sendo verdade, é irrelevante a partir do momento em que você tenha assumido que é justo dar iguais oportunidades a ambos os sexos, conclusão que deveria ser independente de qualquer mensuração de produtividade.
4) Ignora que a existência de fenômenos físicos invisíveis se baseia na constatação de fenômenos visíveis que não seriam explicáveis sem a suposição de fenômenos invisíveis que os causam. Assim, por exemplo, a queda dos corpos, a atração de partículas, as órbitas dos planetas etc. são todos fenômenos visíveis que só podem ter uma explicação coerente e unitária por meio da suposição de uma lei de gravidade. Mas o mesmo não acontece com seres invisíveis como Deus, a alma, o amor, a lei moral etc., que não são indispensáveis para a explicação de nenhum fenômeno físico visível, exatamente porque, não sendo seres físicos, não são capazes de causalidade física. No espírito do item anterior, você estará na verdade argumentando contra a sua causa, pois comparará os seres invisíveis cuja existência você defende com fenômenos físicos invisíveis cuja existência pode ser indiretamente testada e comprovada, criando para você mesmo um ônus de prova a mais e dando um belo contra-argumento ao adversário.
5) Há um argumento muito mais eficaz, que é dizer o seguinte: "Quando falamos de 'existência', geralmente nos referimos à 'existência' de objetos físicos e visíveis, como uma mesa, uma casa ou um cachorro; para essas coisas, 'existir' é ocuparem um lugar no mundo, serem captáveis pelos sentidos etc.; mas restringir a isso o sentido de 'existência' é um preconceito fisicalista, porque na verdade há várias outras coisas que 'existem' de outras maneiras: relações 'existem' na percepção (maior, menor), na apreciação (mais belo, mais feio) ou no raciocínio (mais coerente, menos coerente); números e figuras geométricas 'existem' apenas como ideias matemáticas; nosso passado 'existe' como lembrança, nosso futuro, como imaginação; assim, para cada tipo de coisa que estivermos considerando, devemos julgá-lo segundo o tipo de 'existência' que lhe é apropriado, em vez de impor a todos o tipo de existência próprio apenas de um domínio particular de objetos". Esse argumento (que não prova que Deus, a alma, o amor, a lei moral etc. existem, mas apenas que serem ou não visíveis não é o critério apropriado para julgar de sua existência) atinge o mesmo propósito, sendo, contudo, irretocável e extremamente difícil de ser refutado.
Comentários
Porém, os absurdos estão tão arraigados ao senso comum, que refutá-los parece absurdo ao interlocutor que lança mão de tais, quando na verdade, o absurdo está em utilizá-los em uma discussão séria.
Portanto, os argumentos ridículos, são absurdos ao quadrado, 1- Porque suas bases de analogia são insólitas e superficiais, 2- As pessoas realmente acreditam que aquilo é um argumento convincente e sobretudo, inquestionável.
Acho que uma extensão pertinente do post, caberia a como parecem sedutores os argumentos ridículos, do ponto de vista neurológico, se eles existem até hoje, algo de especial deve ter ajudado a seleção natural a preservá-lo, o quanto das religiões tem contribuição nisso?
Abçs!
Muito bom mesmo.
Parabéns.