"A República" (II): O método socrático em ação, ou por que a justiça não consiste em dar a cada um o que é seu
Na primeira postagem sobre a República, disse que essa obra era um diálogo, uma conversa entre amigos sobre a justiça. Já falei também que Sócrates tinha esse bom hábito de introduzir na conversa temas importantes e que, para impedir os amigos de sabotarem a discussão com alguma resposta precipitada e superficial, submetia a testes as respostas que lhe davam, problematizando-as a tal ponto que os próprios amigos reconhecessem a necessidade de dar início à procura por uma resposta melhor. Pois bem, nessa postagem vou mostrar esse método de Sócrates em ação. Um dos interlocutores sugere, citando as famosas palavras de um poeta grego, que a justiça consiste em "dar a cada um o que é seu". Na época de Sócrates, essa era uma definição bastante famosa e popular do que era a justiça. Assim, diria um grego, quando se julga um réu por um crime, trata-se de dar ao culpado a punição e ao inocente a absolvição. Quando se julga sobre um contrato, trata-se de dar ao comprador a coisa visad