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Mostrando postagens de novembro, 2010

Debates Clássicos da Filosofia: Determinismo X Liberdade

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Em nossa vida cotidiana costumamos nos ver como agentes livres e responsáveis. Fazemos certas escolhas e realizamos certas ações, mas estamos certos de que, se tivéssemos querido, poderíamos ter escolhido ou agido de outra maneira. É isso que nos torna responsáveis por essas escolhas e ações: Se poderíamos ter escolhido ou agido desta ou daquela maneira, mas escolhemos ou agimos desta maneira, então o mérito ou a culpa desta escolha ou ação cabe a nós. Não faria sentido louvar ou premiar a boa escolha ou ação de quem só podia ter escolhido ou agido daquela maneira; tampouco criticar ou punir a má escolha ou ação de quem, mesmo que quisesse, não a poderia ter evitado. A liberdade é, portanto, pressuposto da responsabilidade, e sem essas noções a representação habitual que fazemos de nossa vida moral se veria esvaziada de sentido. Essa representação de nós mesmos como livres se chama indeterminismo ou doutrina da liberdade . Porém, com o advento da moderna visão de mundo científica, p

Colonização do Mundo da Vida: Comentários Habermasianos a uma Postagem sobre Cinemas em Belém

Estava eu hoje lendo, como sempre faço, as postagens do amigo Yúdice Randol, no seu excelente blog Arbítrio do Yúdice , quando, lendo a nostálgica e queixosa postagem Tempos que não voltam , percebi que o fato de que ela trata se prestava perfeitamente para ilustrar o que Habermas chama de "colonização do mundo da vida", tema do qual já pude falar com mais detalhe noutras postagens, como Teoria da Ação Comunicativa, Tomo I , de 08/10/2005, e Habermas: Discurso e Emancipação , de 21/07/2009, cuja leitura (ou, para os que me acompanham há mais tempo, releitura) recomendo como aprofundamento da temática que vou abordar agora. Havendo pedido vênia ao Yúdice para uso do texto dele aqui em meu blog, eis como procederei nessa postagem: Primeiro, reproduzirei o texto do Yúdice, tal como se encontra em seu blog (1); em seguida, recordarei a dicotomia habermasiana entre sistemas e mundo da vida, bem como o fenômeno da colonização do mundo da vida pelos sistemas, mais ou menos nos termo

Argumento de Autoridade (Argumentum ad Verecundiam ou Argumentum Magister Dixit): Análise Argumentativa e Ajuizamento Crítico

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Resumo: A postagem tem a seguinte estrutura: Primeiro, defino o argumento de autoridade (1); em seguida, mostro por que ele carece de validade argumentativa (2); depois, falo da tentativa da Hermenêutica Filosófica de reabilitar a dignidade do argumento de autoridade (3); antes de finalizar, distingo entre uso retórico, uso pragmático e uso cognitivo do argumento de autoridade (4); e, concluindo, expresso meu juízo crítico sobre o uso do argumento de autoridade (5). 1. Argumentum ad verecundiam (trad. argumento ao respeito), argumentum magister dixit (trad. argumento "o mestre disse") ou simplesmente argumento de autoridade é todo argumento na forma "Se A disse que p, então p". A, nesse caso, é uma pessoa, teoria, disciplina ou tradição a que se atribui autoridade inquestionável ou venerável e de que se diz que afirma que p; p, por sua vez, é uma proposição cuja verdade está sob disputa. Quem usa o argumento de autoridade supõe colocar ponto final à disputa em

Cruzada Cognitivista: Em Defesa da Imparcialidade do Juiz

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Hoje em dia a maioria das abordagens do papel do juiz é cética a respeito de sua imparcialidade. Os argumentos para tal ceticismo se desenvolvem em duas linhas: a) a primeira é aceitar que seja possível ser imparcial, mas negar que os juízes de fato o sejam; b) a segunda é negar que seja possível ser imparcial e aceitar que os juízes de fato não o são. Nessa postagem tento refutar a linha de argumento b), que nega até mesmo a possibilidade de ser imparcial. Começo definindo imparcialidade de maneira tal que seja ao mesmo tempo normativamente aceitável e empiricamente alcançável. Em seguida, examino os argumentos que geralmente se usam para mostrar que é impossível ser imparcial. Tento provar que tais argumentos só fazem sentido usados contra uma versão desnecessariamente exigente de imparcialidade e que, confrontados com a versão mais modesta que ofereço, tais argumentos se mostram claramente insustentáveis. Espero assim contribuir para a restauração de padrões cognitivistas mínimos n

Série: Argumentos Ridículos que Você Deve Evitar e Combater (3)

"Questões morais são muito controversas e relativas. O que é certo para mim pode não ser certo para você. O que é certo para uma época e cultura pode não ser certo para outra época e outra cultura." Essa é talvez a forma mais clichê e barata de defesa de uma posição relativista em matéria moral. Todos já devemos ter ouvido esse argumento pelo menos uma vez e muitos de nós já o usaram para fundamentar a suspeita contra as certezas morais ou as noções morais absolutas de um interlocutor. Trata-se de um argumento que goza de ampla aceitação e popularidade e que foi erigido à condição de dogma de nossa época. Mas se trata, como vou mostrar, de um argumento bobo, incapaz de provar o que quer provar e que só mostra a confusão mental de quem o usa e mais ainda de quem se deixa convencer por ele. Devemos em primeiro lugar deixar claro que o relativismo moral não é, em si, uma posição ridícula. Pelo contrário, embora eu considere que o relativismo moral está no fim das contas erra

Por que o direito?

Introdução A maioria de nós está tão acostumada com a presença constante do direito em praticamente todas as esferas da vida que jamais chegou a perguntar-se se este é o melhor estado de coisas possível, isto é, se acaso a vida não seria melhor caso não fosse regulada pelo direito ou caso fosse regulada por outra coisa. É por isso que, quando alguém levanta a questão sobre se o direito é realmente necessário ou se é, pelo menos, a melhor alternativa disponível, a pergunta nos soa um tanto estúpida e despropositada. De imediato tentamos formular uma resposta que mostre exatamente o quão absurda é a pergunta, algo que seja ao mesmo tempo definitivo e óbvio, para simplesmente encerrar o assunto. Creio que a resposta que ocorre em primeiro lugar à maioria de nós é alguma variante da seguinte: É evidente que o direito é necessário, pois, sem ele, não haveria paz, nem ordem, nem segurança, cada um faria o que bem entendesse e quisesse e o resultado seria o caos social completo. Um ponto

Série: Argumentos Ridículos que Você Deve Evitar e Combater (2)

"Se mostrarmos um copo com água até a metade para um pessimista e para um otimista, o pessimista dirá que o copo está meio vazio, enquanto o otimista dirá que ele está meio cheio." Para dizer a verdade, isso não é um argumento. Um argumento é uma combinação de proposições de modo tal que uma delas, chamada conclusão, é inferida a partir das demais, chamadas premissas. Esse, a princípio, não é o caso no exemplo acima. Trata-se, antes, de figura de linguagem que recorre a uma imagem ilustrativa, algo próximo de uma símile ou de uma métafora. O modo como pessimista e otimista olham para o copo é uma espécie de símile ou metáfora de como eles olham para o mundo, para a vida e para as pessoas. Contudo, ao afirmar que ambos estão olhando para a mesma coisa (um copo com água até a metade) e vendo duas coisas diferentes (copo meio vazio / copo meio cheio), constrói-se um argumento implícito: Otimismo e pessimismo são apenas duas maneiras subjetivas diferentes de descrever fatos obj

Two Views on Justice: Deontological and Consequentialist

A postagem abaixo não foi traduzida, e sim composta em inglês. Ela é parte do esforço que pretendo fazer com vista a uma publicação internacional no futuro. Mas por ora vai a primeira parte dela aqui, compartilhada com os leitores do Blog que sejam hábeis na leitura em língua inglesa. From all the possible topics one could start with in a course on philosophy of law, justice is one with the most long-lasting and deep-driven history of discussion in the field. Thinkers have been talking about justice since ever, which is at the same time an evidence of how important the subject really is for mankind and of how complex the questions it raises are, as well as how much controversy it brings with. That is why one has to draw some strict lines of approaching of the issue in order to make it possible to be talked about. Sometimes when the subject is too large and complex and the theories and arguments around its questions are too many and disputed, the only way to make the issue approachab